“Chocante” | Crítica 

Postado em out. 17, 2017

Filme se preocupa apenas em divertir o público e atinge seu objetivo com sucesso.

Para toda criança das décadas de 1980 e 1990 a recorrente presença de boybands em programas de auditório como o icônico Sabadão , que ocupava um expressivo lugar nas noites do SBT, é uma doce memória da infância, remetendo a vários nomes que foram vistos apenas uma vez e nunca mais houve notícias. Tendo essa importante constatação como base, o filme “Chocante” conta a história da banda homônima, que reunia cinco garotos que estouraram nessa fatídica época, com adolescentes coloridos, que dançavam, cantavam e possuíam apenas um hit.

Com a chiclete “Choque de Amor”, a banda conquistou o coração das mocinhas e a capa das revistas do país mesmo tendo sido ativa por apenas oito meses e vivendo de um só sucesso emplacado antes do término e da separação dos cinco componentes, que não tiveram mais contato desde então, seguindo suas vidas da melhor maneira possível e adequando-se aos padrões da sociedade, constituindo família e se dedicando a empregos estáveis.

Logo no início do filme somos transportados para a época de sucesso dos garotos por meio de suas aparições na TV. Primeiro podemos vê-los em uma das apresentações no programa do Gugu, seguida da aparição de seu primeiro (e único) videoclipe em uma emissora que nos lembra a antiga MTV Brasil, trazendo também entrevistas com as fãs e ressaltando toda a comoção que havia em torno dos cinco componentes. Entretanto, também acompanhamos sua decadência e a notícia da morte de Tarcísio, um dos ex-integrantes da banda, que é dada de forma cômica por Sonia Abraão.

Após a morte do companheiro, os quatro componentes remanescentes Téo (Bruno Mazzeo), Clay (Marcus Majella), Tony (Bruno Garcia) e Tim (Lucio Mauro Filho) acabam se encontrando durante o enterro e é inevitável a recordação dos velhos tempos, especialmente pela brilhante e hilária aparição de Quézia (Débora Lamm), que é uma tiete do grupo até os dias atuais. Ela não só serve como a “cola” que os une novamente, como também fornece sua casa para que se reúnam e falem sobre a época de sucesso do Chocante.

A princípio apenas Clay, Tony e Téo vão ao encontro, e é então que ficamos sabendo o que aconteceu com eles durante os vinte anos em que ficaram separados. E é nesse momento em que Majella se sobressai com um brilhantismo de dar inveja ao representar seu personagem. Todas as cenas em que ele aparece no trabalho acabam sendo espontaneamente engraçadas de forma simples e natural, pois conduz com naturalidade o crescimento e frustração que o ex-chocante enfrenta diariamente.

Um ponto negativo a ser ressaltado é que, por mais divertida que seja a cena onde os personagens contam sobre sua vida e profissão de forma romantizada e aveludada, tê-la visto previamente no trailer acabou quebrando um pouco a graça, tornando-a já algo esperado do filme e anulando um pouco a originalidade envolvida. Entretanto não deixa de ser bacana rever e sorrir mais uma vez.

Após este primeiro encontro, vemos a intenção dos três componentes de continuar se vendo e trazendo à tona suas lembranças de uma época que, embora muito distante, não parece ter morrido em suas memórias. Há também a incontrolável vontade de Téo em fazer com que Tim se reúna com eles também, enriquecendo mais a experiência e se reaproximando do irmão, que reluta um pouquinho mas acaba aceitando a proposta de “reviver os velhos tempos”.

Após muita nostalgia, os quatro decidem que vão fazer um show reunidos, por pura brincadeira e apenas para “ ver no que vai dar ”. Eles recorrem a seu antigo empresário, Lessa (Tony Ramos) que embora ainda ressentido pelo prejuízo que o precoce fim da boyband lhe causou, se compromete e auxiliá-los em sua busca por sucesso novamente.

Nesse meio tempo também conhecemos Dora (Klara Castanho), que tem uma personalidade dócil e aparece sempre compreensiva com o pai, Téo, que se separou de sua mãe e agora tem que correr para cumprir suas obrigações com a filha, dividindo-se entre um trabalho e outro enquanto busca tempo para passar com a menina.

Durante essa tentativa de voltar aos holofotes, os quatro integrantes acabam aceitando a sugestão do empresário e permitindo a entrada de um “quinto elemento”, que é ninguém mais, ninguém menos que Rod (Pedro Neschling), que acabou de sair vencedor de um reality show na selva, onde o público teve de decidir entre ele e Anderson, da banda Molejo, para vencer o programa. Após a comoção de suas fãs, empenhadas em fazê-lo vencer, Lessa acredita que ele é a melhor opção para dar uma guinada no retorno do Chocante.

São engraçadas as cenas de ensaios, mostrando como claramente os quatro não tem mais a mesma forma física e pique que possuíam em sua adolescência. Rod, por sua vez, acaba sendo o foco de atenção de uma mídia fútil, o que incomoda muito os integrantes mais velhos. Seu recorrente uso das redes sociais para se promover e dar novidades sobre os encontros de seu novo projeto musical também acaba soando meio impertinente, porém bastante divertido.

A direção ficou por conta de Johnny Araujo e Gustavo Bonafé. Já a incrível música chiclete que vai ficar grudada na sua cabeça por uma semana, ” Choque de Amor “, é toda responsabilidade de Plínio Profeta.Falando de forma técnica, o filme não possui falhas notáveis ou que sejam incomodas aos olhos. Existem sim alguns trechos de roteiro e cortes de cena que poderiam ser revistos, evidentemente, mas a grande aposta de Chocante não vem em quesitos artísticos ou reflexivos. A proposta é simples, fazer o público rir. Levando isso em consideração, o filme é feliz com o resultado, pois atinge seu objetivo em cheio.

O humor vindo de uma nostalgia “recente” (de 20 anos atrás, precisamente) é algo novo e que poderia ser mais explorado em outras obras. O filme brinca sobre como os sonhos de adolescência, às vezes, precisam mesmo ser deixados para trás, por mais gostoso que seja lembrar-se deles. Também levanta alguns conflitos familiares e existenciais, apontando sobre como na fase adulta cada equívoco pode resultar em um baita perrengue financeiro. Porém, mesmo com todos esses elementos, não há uma preocupação em dramatizar ou tornar o longa algo pesado e melancólico, muito pelo contrário.

É a clara representação cômica de como cada decisão afeta profundamente a vida das pessoas, mas não é pelas dificuldades que se deve deixar abalar. Como se, no fim das contas, a mensagem que o filme quisesse transmitir fosse a clássica e clichê “se a vida te der limões, faça uma limonada”. E se você espera um final feliz e bem explicadinho, já adianto que irá se decepcionar, pois várias coisas são deixadas em aberto. Isso acabou incomodando muito algumas pessoas, mas acredito que tenha sido melhor assim, como se fosse algo que não terminou ainda.

No fim das contas, Chocante não é o tipo de filme que é feito para concorrer ao Oscar ou quaisquer prêmios internacionais. É só uma produção simples, com suas falhas, mas que foi idealizada para divertir sem ofender e entreter acima de tudo, trazendo uma mensagem otimista para os dias atuais e uma porção de referências que aquecem o coração de qualquer um que tenha vivenciado a década de 1980 e 1990.

Nota: 6,5

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