“It: A Coisa” | Crítica
Postado em set. 13, 2017
Filme é a união perfeita entre comédia e terror.
Baseado no filme de 1990 e no romance de Stephen King, “It: A Coisa” conta a história de um grupo de crianças que descobre uma presença maligna em sua cidade e tem que combatê-la para sobreviver. Anos depois, já adultos, acabam retornando ao local para enfrentar mais uma vez a terrível criatura que se alimenta do medo das pessoas.
Com direção de Andy Muschietti (“Mama”) “It: A Coisa” é uma obra cuidadosa, que se preocupa em apontar as características de cada personagem antes de mostra-lo como parte de um grupo, indicando a importância de cada indivíduo para o funcionamento de uma equipe que se uniu de forma tão inusitada.
O “Clube dos Perdedores” reúne sete crianças que “não se encaixam” de alguma forma no meio em que vivem, seja na escola ou até mesmo em casa, e acabam se encontrando meio que sem querer, se identificando por suas singularidades e criando um grupo que abriga os mais diversos tipos de personalidade.
Bill (Jaeden Lieberher) não consegue aceitar o “sumiço” de seu irmão caçula, o doce Georgie, e tenta de todas as formas encontrar respostas que o levem até o paradeiro do menino. Seus amigos, Richie (Finn Wolfhard), Eddie (Jack Dylan Grazerm), Ben (Jeremy Ray Taylor), Stanley (Wyatt Oleff), Mike (Chosen Jacobs) e Beverly (Sophia Lillis) ajudam nesta busca e demonstram o verdadeiro valor da amizade.
Impossível não ressaltar o brilhantismo de Sophia Lillis como Beverly. A atuação dela é impecável em vários aspectos, seja nos tons de voz ou nos olhares profundos que direciona para cada um dos garotos, sendo capaz de confortá-los e até acalmar os ânimos em diversas situações. Por várias vezes percebemos que ela é a “cola” que os mantém unidos nos momentos mais difíceis.
Mesmo que algumas das crianças tenham mais enfoque que outras, todas se mostram importantes engrenagens de uma máquina que só funciona direito quando estão unidos. É uma clara referência a filmes da época como “Os Batutinhas” e “Conta Comigo” além de ser uma bela (e importante) mensagem para o público atual, numa era tão individualista.
Um ponto que nos preocupava bastante e saiu muito melhor que o esperado foi o próprio Pennywise. A coisa. É uma tarefa difícil para o diretor fazer o público identifica-lo não como um fantasma ou demônio, mas sim como uma espécie de bicho-papão, que se alimenta dos medos e aparece para cada um de uma forma que represente seus maiores traumas e temores. E este trabalho é muito bem cumprido desde o começo, quando o palhaço aparece de uma maneira diferente para cada criança.
Também é inegável o incrível trabalho que Bill Skarsgard fez com o palhaço tornando-o desconfortável até mesmo para o público em diversas cenas, seja na baba que eventualmente escorre por seus lábios, nos olhares impactantes que direciona ou na dancinha medonha que faz quase no final do filme. De fato, dá para ver que ele fez o melhor que podia para tornar a coisa algo desagradável e conseguiu.
Porém, particularmente me desagradou um pouquinho vê-lo logo de cara. Não foi preciso nem 10 minutos de filme para já conhecermos sua forma, voz, aparência e identidade. É verdade que isso não influência ou torna a trama menos envolvente, porém esperava um pouquinho mais de quebra-cabeça até ver Pennywise em plena forma, com seu sorriso maligno e um baita balão por perto.
Embora tenha cenas aterrorizantes, “It” inova ao não ser apenas um filme de terror. A trama transita suavemente entre a aventura, o suspense, o terror e a comédia com muita naturalidade, trazendo veracidade para o longa que não se mantém apenas com medo e sustos aleatórios. Há várias situações divertidas com as crianças, entre as piadas sem-graça e os comentários de Richie, como também nas expressões de Ben e as compulsões de Eddie. Tudo muito bem feito, sem quebrar o clima no momento errado e fazendo o público ter empatia pelos personagens.
Se for para fazer uma comparação com a versão de 1990, acredito que “It” se sai um pouco melhor. Temos um Pennywise mais amedrontador, que realmente persegue as crianças e ainda influencia para que coisas terríveis aconteçam, mesmo que não sejam propriamente por suas mãos. Além de ter mais tempo (afinal de contas serão dois filmes) para desenvolver cada personagem, podemos ver um aprofundamento maior e também uma maior percepção dos laços de amizade e companheirismo que os envolvem. Além de algumas cenas, como a clássica e sanguinolenta experiência de Beverly em seu banheiro, que ficou ainda mais incrível com os efeitos especiais que dispomos agora, há também outros conflitos importantes que surgem e unem ainda mais as crianças, preparando o terreno para algo mais amedrontador que virá na sequência.
Lina
A própria Beverly, quando os garotos começam a discutir sobre continuar perseguindo o palhaço, diz que “É isso que ele quer, nos separar”. E tem toda razão. Acredito que essa união que possibilitou a vitória das crianças neste primeiro capítulo será ainda mais importante na continuação, e sinceramente as expectativas estão bem elevadas para o próximo filme.
Por fim, “It” é um ótimo longa de terror, que não provoca sustos sem motivo e não tem inconsistências em relação a história ou personagens, mas é também uma excelente produção, cheia de detalhes e sentidos que o tornam não só uma excelente adaptação, mas um grande filme.
NOTA: 09
Lina