“O Filme da Minha Vida” | Crítica 

Postado em ago. 27, 2017

Com uma belíssima fotografia, longa emociona e diverte do começo ao fim.

Com direção de Selton Mello, “O Filme da Minha Vida” traz uma característica já presente em outros de seus trabalhos: a mescla entre melancolia e humor. É notável a delicadeza empregada para tornar o longa esta belíssima produção que enriquece o cinema nacional.

O filme conta a história de Tony (Johnny Massaro), que acaba de retornar à sua cidade natal após passar anos estudando na capital e é surpreendido com a notícia de que seu pai, Nicolas (Vincent Cassel), decidiu retornar a seu país de origem, a França, sem lhe dar qualquer explicação. Após este choque, o garoto tem que lidar com a ausência do pai e todas as questões que a juventude impõe.

O longa “O Filme da Minha Vida” é uma adaptação da obra “Um Pai de Cinema”, de Antonio Skármeta. O título da produção já diz um pouco sobre o filme, que sutilmente faz uma homenagem ao próprio cinema, como ocorre em “Lisbela e o Prisioneiro”, por exemplo, onde o cenário é imprescindível para o desenrolar dos acontecimentos. É inegável que o nome tenha uma profunda ligação com a trama, porém, o aspecto negativo, é que não se torna muito chamativo.

O primeiro ponto positivo é a incrível fotografia de Walter Carvalho. É um belíssimo olhar sobre as paisagens, cenas e personagens que torna tudo mais encantador e agradável a vista. Por inúmeras vezes é possível se pegar inserido na história, admirando as cenas e se encantando com cada pedacinho da região que nos é apresentada. Os enquadramentos também são impecáveis, dando uma maior perspectiva dos fatos pela visão do protagonista e ressaltando atos ou gestos que soam mais relevantes.

O capricho na ambientação, as ótimas atuações e um roteiro bem fechadinho são características inegáveis. A trilha sonora também é excelente e compõe o filme com perfeição, se destacando nos momentos certos, mas sem tirar a atenção das cenas, tudo bem colocado, sem que uma faixa acabe “engolindo” a outra.

O filme mostra de uma forma lúdica e inteligente as dúvidas do personagem em relação a carreira, romances e a melancolia que ocorre após a ausência do pai. Foi tudo muito bem construído para trazer a empatia pelos personagens e também pela identificação com o protagonista. Algumas cenas, como quando Nicolas ensina o filho a andar de bicicleta e vibra quando ele consegue, são tão puras e simbólicas que não há como não se emocionar.

Ondina Clais interpreta a mãe, Sofia, que sofre em silêncio pela ausência do marido e diversas vezes se recorda de quando o filho era criança e os três conviviam como uma família. É triste, mas ao mesmo tempo bonito de ver como os personagens amadurecem após a “quebra” do pilar que o pai representava e vão se esforçando para preencher o vazio que ele deixou.

Paco (Selton Mello) é quem auxilia Tony e a mãe nos momentos de saudades. Um homem rústico e realista, que tenta indicar para o garoto os caminhos que considera corretos, além de estar presente em momentos importantes. Afinal, foi ele quem acompanhou Tony até o bordel pela primeira vez.

Outro ponto é que, mesmo quando os personagens estão no bordel, não fica no ar um clima de sexo ou promiscuidade. É tudo feito com cuidado, sem vulgarizar em nenhum momento e tornando a situação leve e divertida. Não precisa ter medo de ir com os pais ao cinema não, pode ficar tranquilo.

Há algumas participações especiais que são imprescindíveis, como Rolando Boldrin, que interpreta o maquinista do trem, e o autor da obra que inspirou o filme, Antonio Skármeta, que tem uma breve e divertida aparição.

O romance entre Tony e Luna (Bruna Linzmeyer) também é bem construído e cria no público certa simpatia pelo casal, que além de conectado por uma forte amizade ainda tem o laço com Augusto (João Pedro Prates), irmão da moça e aluno do protagonista que funciona como alívio cômico por diversas vezes.

Há também várias reviravoltas na história e o público sente junto com o protagonista o impacto de algumas situações e notícias que são recebidas no decorrer da trama. O filme nos faz querer ver mais e mais dos personagens, que são bem construídos e possuem seus próprios dramas pessoais.

Um ponto que gera discussões é o final, que não se mostra corajoso de fazer algo diferente do “final feliz”. Este quesito varia muito da preferência de cada um. Particularmente aprecio conclusões mais alegres, onde tudo termina bem, então gostei de verdade. Também é interessante, pois deixa em aberto alguns pontos e podemos ver que a narrativa do começo do filme teve início ali, no final, e por isso o longa começa com a explicação de que “o resto não se pode contar”.

No geral o filme surpreende, diverte e não soa cansativo ou depressivo. Dá para notar que foi todo feito com cuidado, cautela e cheio de simbolismos que encantam e dão sentido a história. “O Filme da Minha Vida” não aparenta ter uma preocupação além da artística, de passar a história para o público da forma mais sentimental e delicada possível. Consegue trazer reflexão para o expectador e conclui com sucesso sua missão de ser uma obra memorável.

Nota: 08

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