Ouvimos “Humanz”! 

A cada faixa do álbum nos surpreendemos ainda mais!

Postado em jul. 05, 2017

Para os fãs que se empolgaram com a novidade do lançamento do álbum este ano, crendo que veriam mais do antigo estilo do Gorillaz, o novo CD pode ter decepcionado. Há participação de outros artistas em praticamente todas as faixas do álbum, o que acaba descaracterizando um pouco o estilo do grupo.

Porém, de um ponto de vista artístico, analisando o álbum como um todo, o resultado é extremamente positivo. “Humanz” jamais se torna repetitivo, trazendo novidades a cada faixa, e se adequando perfeitamente ao conceito de arte, pois é não só uma criação desprendida de parâmetros impostos por gênero musical como também traz inovação sem medo de errar.

Verdade que o trabalho é mesmo diferente de todos os outros que a banda tenha feito anteriormente, mas para todo artista, em algum lugar, no meio do caminho, há a extrema necessidade de se reinventar, tanto pelo amadurecimento do grupo como do público também, que pode não querer ouvir em todo CD uma versão da antiga “Clint Eastwood”, sucesso da banda nos anos 2000.

Podemos notar as mudanças a partir da capa, que faz uma referência ao antigo CD “Demon Days”. É possível ver as diferenças em cada um dos integrantes nessa versão mais humanizada, como se ficasse mais evidente que são quatro personalidades totalmente distintas unidas formando um conjunto que, misteriosamente, deu certo.

Se levarmos em conta a história por traz de cada álbum, o disco segue os acontecimentos de “Plastic Beach” e “The Fall”, porém com uma pegada mais apocalíptica.

De acordo com Damon Albarn, um dos criadores da banda virtual, após se perguntar em 2016 o que poderia acontecer se Donald Trump vencesse as eleições, veio a criação do “Humanz”, que deixa explícita a conclusão à qual Damon chegou, visto o contexto de fim dos tempos que o CD obteve .

Já na primeira música, “Ascension”, há uma batida mais forte e intensa anunciando o início do fim. Com a participação de Vince Staples, que encaixou bem com a pegada do som, o que chama mesmo a atenção é a brincadeira sonora que vai acontecendo no decorrer da canção.

Logo em seguida vem “Strobelite”, com participação de Peven Everett, totalmente diferente da faixa anterior, bem mais dançante e voltada para o house, trazendo uma mensagem sobre encontrar uma luz e viver por ela. Como se insinuasse sobre a incansável busca de propósito e identidade que ocorre durante um processo apocalíptico. A terceira faixa, “Saturnz Barz”, com vocais de Popcaan, é um pouco mais “sombria”, remetendo a devaneios sobre o passado, futuro e o medo da solidão típicos dessa situação de fim do mundo.

Então somos surpreendidos pela eletrizante “Momentz”, que é extremamente diferente de todas as outras faixas e com muito potencial, nos faz querer cantar junto. Uma super parceria com o De La Soul. Com certeza uma das mais marcantes do álbum.

O álbum vai se estendendo e mais faixas incríveis são reveladas. Temos “Submission”, com Danny Brown e Kelela, que soa mais pop e divertida, seguida de “Charger”, onde ouvimos um pouco mais os vocais de 2D numa onda mais tranquila que as anteriores.

Também temos “Andromeda”, que vem mais suave e até mesmo romântica, uma ótima escolha de antecessora para “Busted Blue”, a faixa mais parada do álbum, que ressalta bem o vocal e uma certa tristeza utópica típica dos devaneios que já perambularam por outros CDs do Gorillaz e que também soa como uma crítica sobre a depressão que será resultado do governo Trump.

“Carnival” surge trazendo uma pegada mais eletrônica, com participação de Anthony Hamilton. Em seguida temos “Let me Out”, com participação de Mavis Staples e Pusha T, uma forte e direta crítica a Trump, que conta com trechos como: “Obama se foi, quem vai nos salvar? Choramos por Orlando, eu estou orando por meus vizinhos. Eles dizem que o diabo está trabalhando e Trump está pedindo favores”.

Já “Sex Murder Party” é aquele tipo de música que podia facilmente colocar todos seus amigos para dançar em uma balada. Com participação de Jamie Principle e Zebra Katz, é bem convidativa e com batidas distintas. “She’s My Collar”, por outro lado, já soa um pouco mais descontraída, simples e gostosa de ouvir. Um pouco mais similar ao antigo Gorillaz e com colaboração de Kali Uchis, que caiu como uma luva para o clima da música.

Com uma das letras mais marcantes do álbum vem “Hallelujah Money”, sem muita preocupação com algo além dos vocais, que são o ponto forte da faixa. E então temos a animada (e inusitada) “We Got The Power”, que traz uma mensagem positiva em todo um universo desesperançoso.

A versão Deluxe ainda conta com mais cinco músicas que não são menos importantes que as anteriores e parecem trazer uma visão de futuro melhor, após várias dificuldades no caminho.

“The Apprentice” é bem R&B, gostosa de ouvir e apreciar, pois os vocais são excelentes. “Halfway To The Halfway” vem em seguida, cheia de efeitos sonoros e que parece nos transportar para outro universo. Dá um tom de quem está quase atingindo seu objetivo, como se fosse a trilha sonora perfeita para o último segundo antes de um atleta vencer a corrida.

Com certeza o prêmio de música bizarra do álbum vai para “Out Of Body”, que começa com um “q” meio robótico e vai se tornando aos poucos eletrônico. Conta com participação de Kilo Kish, Zebra Katz e Imani Vonsha.

“Ticker Tape” já é um pouco mais lenta, bem focada nos vocais, chegando em certo ponto da música onde, de fato, só ouvimos as vozes. E é realmente incrível. Ela traz a mensagem de “mundo novo”, como alguém que vislumbra o nascer do sol após uma tempestade.

Por fim chegamos à última música do álbum, “Circle Of Friendz”. Tem um ar nostálgico, sem uma letra complexa como em outras faixas. Parece mesmo um encerramento, típica música de balada de formatura.

Nossas impressões do CD não foram muito boas, a princípio, pois esperávamos algo parecido com o Gorillaz dos anos 2000. E, como este álbum é basicamente feito para desconstruir uma imagem e mostrar que a música pode sim mesclar vários pedacinhos de cada gênero, ficamos meio perdidos enquanto escutávamos, mas acabamos gostando muito!

O resultado é super positivo e você pode tocar o CD todinho sem susto. Tem música para todo gosto e isso é uma baita sacada da banda, que vai atingir ainda mais público com as faixas inovadoras e divertidas.

Também é importante ressaltar que a história nas entrelinhas é bem fechadinha e interligada em todas as canções. Como dissemos no comecinho do texto, você pode notar, se prestar bem atenção, que o CD todo conta uma história pós apocalíptica do mundo agora que Trump é presidente dos Estados Unidos.

Tudo começa com o fim do mundo e termina, após muito sofrimento e revolução, em um final que pode ser muito feliz, se continuarmos próximos das pessoas que nos são importantes para superar todos os desafios da jornada.

Imprevisível, divertido, eletrônico e com músicas inigualáveis. Afinal de contas, é sim o mesmo Gorillaz de sempre.

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