“Pantera Negra” | Crítica

Postado em mar. 05, 2018

Com elenco grandioso, “Pantera Negra” se destaca e tem capacidade para mudar paradigmas.

Em “Pantera Negra” acompanhamos o retorno do príncipe T’Challa (Chadwick Boseman) após os acontecimentos de ” Capitão América: Guerra Civil “, que decide retornar para sua terra natal, a isolada e tecnologicamente avançada Wakanda para assumir o trono. Quando um antigo inimigo reaparece, sua coragem é testada, então ele é levado para um conflito que coloca o destino do país em risco.

Para começar, é impossível não citar a representatividade que “Pantera Negra” traz para as telonas. A cultura africana está presente de todas as formas, desde a trilha sonora até a fonte dos letreiros e o próprio andamento do filme, que segue semelhante à uma música de ” Hip-hop ” ou ” Rap “, iniciando devagar e mais suave, para só depois mostrar sua batida. E, assim como nesses ritmos, a mensagem a ser passada é o principal e o longa executa isso de maneira incrível e divertida.

No início somos apresentados à história de Wakanda (terra natal do herói), com um prólogo muito expressivo e representativo da cultura africana, construído em areia como se fosse feito pelas tribos e homenageando clãs ou grupos que tem uma cultura oral muito forte, de contar suas histórias e passar para os mais jovens seu papel como indivíduos e como tudo se formou.

Muito bem escrito e dirigido por Ryan Coogler (conhecido por trabalhos excelentes como ” Creed ” e ” Fruitvale “), que se mostrou um ótimo dirigente, contando com muita criatividade, tomadas de câmeras distintas e imersivas. Suas escolhas de cores no longa também são bem diferentes, juntamente com a forma peculiar de contar história. Outro ponto positivo é o elenco de dar inveja, contando com Chadwick Boseman, Michael B. Jordan, Lupita Nyong’o, Danai Gurira, Daniel Kaluuya, Forest Whitaker, Andy Serkis e Martin Freeman. Todos quase que impecáveis em suas atuações.

Os vilões são um ponto forte, muito bem escritos e estruturados, cada um com suas motivações bem explicadas e que fazem sentido no contexto. Ulysses Klaw (ou “Garra Sônica”) faz uma ponte interessante, sendo a personificação da exploração do homem branco em terras africanas. Neste caso ele está em busca do vibranium contido em Wakanda. Já o “Killmonger” aprofunda a história do universo de “Pantera Negra”, e o apresenta como uma leitura crítica da realidade das vivências negras, trazendo consigo a discussão da marginalização, pobreza e a violência imposta a esses corpos.

Assim, inserindo uma subtrama que surpreende qualquer espectador de filmes de super herói. Desta forma também abrange política e aspectos sociais bem interessantes, trazendo uma boa mensagem para o público.

A visão bem arquitetada sobre as minorias ou países subdesenvolvidos faz uma relevante crítica ao sistema de “meritocracia”, mostrando desde as ruas necessitadas dos EUA até as vilas do velho continente onde se localiza a cidade escondida de Wakanda. Este é um filme que fala sobre a exclusão e a segregação social que é apresentada na própria terra do herói, que vive escondido em um paraíso tecnológico dentro da África e não se mostra para ninguém, nem mesmo em termos de ajuda (para nações vizinhas ou para o mundo), afinal de contas, tais recursos poderiam ajudar os mais necessitados e esta omissão faz parte do questionamento central do longa.

Algumas cenas podem parecer meio repetitivas, como por exemplo quando os personagens fazem um ritual de passagem e tem um breve momento com seus entes queridos que já “desencarnaram”. É cansativo esse “enterra-desenterra”, seja na areia ou no gelo, e dava para economizar um precioso tempo nessa edição. Porém, por mais que o roteiro nem sempre consiga avançar com agilidade em suas soluções, ele dá prosseguimento à sua história principal. A força da mulher também está presente em personagens relevantes e muito bem representada com as “Dora Milaje” (Guerreiras protetoras à serviço do rei).

Não há como ignorar as personagens de Letitia Wright e Lupita Nyong’o, respectivamente a irmã e a ex namorada do Pantera, que roubam a cena quando aparecem. É de uma baita representatividade para o público feminino, pois em vários momentos podemos averiguar a relevância das ações delas para a ascensão do personagem, que com toda certeza não chegaria nem à metade do filme sem a ajuda delas.

O relacionamento do Pantera com ambas personagens é muito bem construído e estruturado, tendo visíveis diferenças e nuances conforme a personalidade de cada uma. A forma com que são introduzidas também é excelente, nunca as equiparando ou tornando-as dignas de um resgate. Muito pelo contrário, são mulheres fortes, incrivelmente capacitadas e que servirão de inspiração para toda uma geração.

Infelizmente as cenas de CGI não são muito bem realizadas, (talvez por ser o primeiro trabalho do diretor usando muitos efeitos visuais), mas houve uma certa preocupação em investir nesse tipo de produção, mesmo não sendo este o ponto forte do filme. As cenas de ação são bem coreografadas, não há nada muito épico, porém contém alguns momentos bem empolgantes. O longa não se parece em nada com o que costumamos ver da Marvel, tendo uma pitadinha de humor, mas logo retornando ao seu clima de seriedade, sem cortar ou diminuir a importância dos eventos.

A história do herói desloca a ligação entre realidade e ficção, pois mostra Wakanda em uma civilização que “escapou” da predatória e horripilante colonização europeia, por mais que as vezes apresente com uma visão um pouco eurocêntrica.

A narrativa possui em si a possibilidade de fazer questionar a contribuição de pessoas negras africanas para o desenvolvimento da ciência, visto que é fato historicamente, a existência do saber científico produzido em África sem interferência direta dos europeus, como descobertas astronômicas, médicas e etc. Com isso o filme faz o telespectador pensar em como as nações africanas poderiam vir a ser sem a interferência da escravização e o racismo. Talvez se o filme fosse mais explicito ou um pouco mais “sério”, ou se aprofundasse mais, traria ainda maior peso para o longa, pois deixa muito a interpretação.

Com certeza “Pantera Negra” é o filme do momento, trazendo a tona temas de muita importância e destoando um pouco da mesmice que a Marvel vinha apresentando. Existem erros e algumas falhas, mas nada que deixe uma imagem negativa para uma das produções mais esperadas e relevantes dos últimos anos no ramo de super herói. Evidentemente a proporção e importância deste longa é bem mais significativa do que a maioria pode imaginar, com uma mensagem a se passar para toda as gerações.

Nota: 8,5

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