Por que você deve Assistir Rick and Morty?

Além de bem humorada, a animação se mostra bem mais profunda que um desenho comum.

Com uma temática madura e intelectual até mesmo para adultos, “Rick and Morty” tornou-se um fenômeno entre o público nerd e causou controversas ao ser comparado com outras animações de temática semelhante, como “Uma Família da Pesada”, “Os Simpson” e “Futurama”. Além das tradicionais piadas com obscenidades e as referências ao universo pop, relembrando filmes e seriados famosos em alguns episódios, o desenho aborda importantes questões filosóficas, trazendo a tona o existencialismo e o niilismo com inteligentes citações e experimentos científicos.

O projeto inicial surgiu em 2006, criado por Justin Roiland, que desenvolveu uma paródia esdruxula do famoso “De Volta Para o Futuro” para participar de um festival de curtas, em um formato completamente diferente do que estamos acostumados. Além da gritante diferença nos traços, a premissa era simplória e não se compara a atual. Porém, 06 anos depois, Dan Harmon foi afastado da série que ele mesmo criou, “Community”, e acabou unindo-se a Justin para planejar melhor um enredo da produção que se tornou o “Rick and Morty” que conhecemos hoje.

Em 2012, o canal Adult Swim procurava novos desenhos para incrementar sua programação e suceder produções famosas como “Hora de Aventura”, por exemplo. Foi então que Justin e Dan apresentaram o reelaborado “Rick and Morty”, que conta a história de Rick, um cientista que consegue fazer viagens temporais, intergaláticas, e experimentos incríveis, e conta com a ajuda de seu neto, Morty, um garoto inseguro, com problemas de relacionamento que está sempre à beira de um ataque de nervos, para lhe auxiliar com seus projetos e aventuras pelo espaço e outras dimensões, o que acaba colocando em cheque as crenças e opiniões do garoto.

A série discute temas polêmicos e desconstrói pensamentos conservadores com muito ceticismo, trazendo a tona discussões familiares e filosóficas, como por exemplo desvirtuar o casamento, religião e até mesmo o sentido da vida. A imprevisibilidade traz uma surpresa a cada episódio e caracteriza muito bem cada um dos personagens, que vão se mostrando profundos e bem trabalhados.

Eventualmente algumas situações causadas por leves alterações de vontades ou ações dos personagens acabam fazendo com que abandonem seu universo, um bom exemplo para isso vem do episódio em que Rick tenta criar para Morty um feromônio que o ajude a conseguir uma namorada, entretanto, isso acaba transformando toda a humanidade em monstros terríveis. Após concluir que não seria possível resolver essa situação, eles decidem se mudar para uma realidade alternativa onde o avô tenha conseguido encontrar uma solução para o problema.

Nessa nova realidade, eles vêem um Rick e um Morty que acabam morrendo em uma explosão acidental após encontrar a solução para o problema dos monstros. Então decidem tomar o lugar deles e acabam se instalando naquele novo paralelo. E é isso que torna a animação tão incrível: Você nunca sabe para onde cada capitulo vai te levar, mesmo quando tudo parece perdido, pode haver uma resolução bem maluca, mas extremamente funcional.

O Niilismo e a ausência de crença nas coisas estão bem presentes na série. Rick é descrente de vários conceitos estabelecidos hoje por padrões do pensamento comum. O avô tenta manter Morty com os “pés no chão” muitas vezes durante as temporadas, pois como não acredita em Deus, muitas vezes acaba convencendo os outros personagens e até mesmo o espectador disto, mostrando para seu neto que há uma resolução para qualquer questão religiosa,que pode ser resolvida por alguma fórmula científica.

Rick tem uma personalidade extremamente egocêntrica, como por exemplo, em um dos episódios onde ele produz um universo alienígena apenas para gerar energia para o motor de seu carro. Neste local, os nativos o reverenciam como um Deus, onipotente e criador de tudo, porém, um dos moradores também concebe seu próprio microuniverso para originalizar fontes elétricas, o que acaba fazendo um ciclo vicioso. Talvez por ter conhecimento de tudo isso, o personagem acaba sendo cético em relação a religião.

As fugas e as viagens interdimensionais dos dois comprovam a genialidade e os profundos conhecimentos tecnológicos e científicos, que os roteiristas e criadores da série conseguem mesclar à estes assuntos com referências da cultura pop, trazendo uma narrativa semelhante a de “Doctor Who” e “Guia do Mochileiro das Galáxias” enquanto apresentam o conceito de microuniversos e realidades paralelas, inspiradas nos contos de H.P. Lovecraft.

Rick é o mediador que nos familiariza com esses conceitos e nos faz compreender que os microuniversos são infinitamente pequenos se comparados com a magnitude do mundo em que vivemos, assim como também somos insignificantes em relação ao infinito universo. O desenho também traz pontos e citações a relevantes produções populares, como “Inception”, “Alien”, “A Hora do Pesadelo”, e a incrível concepção do “Anatomy Park”, super baseada em “Jurassic Park”, mas trazendo o funcionamento e a composição do organismo humano.

Com certeza “Rick and Morty” é uma das melhores séries animadas lançadas nos últimos anos. Com três temporadas lançadas, um humor ácido e questões interpretativas, que fazem o seu espectador ir além do pensamento comum, trazendo de forma inovadora um desenho perfeito para quem gosta de pensar “fora da caixinha”. E, talvez por isso, como dito no começo deste texto, pode ser considerado maduro demais até mesmo para alguns adultos. Com todos esses elementos a animação acerta em cheio em tom e profundidade, principalmente para aqueles que adoram uma referência bem feita, Sci-Fi, metas linguagens e algo mais profundo e inteligente, que foge do traço simplista dos últimos desenhos lançados.

Nota: 10

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